quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Iharabras avança na busca de fungicida para combater a vassoura-de-bruxa

Matéria veiculada no Jornal Valor Econômico aborda perspectiva para o controle químico da Vassoura-de-Bruxa. A obtenção de um fungicida eficiente que combata a doença da vassoura-de-bruxa na cultura do cacau está mais perto de se tornar realidade. Pesquisadores da Unicamp, em parceria com a empresa de defensivos Ihara, avaliam moléculas químicas capazes de driblar o fungo. Assim que se verificar a viabilidade do produto e que todos os testes sejam feitos, ele deverá ser produzido comercialmente. A vassoura-de-bruxa é uma das principais causas da baixa performance dos cacaueiros na Bahia, maior produtor nacional da amêndoa (vide contexto). Por isso, já foram investidos cerca de US$ 10 milhões em pesquisas sobre o fungo Moniliophthora perniciosa que provoca a doença. Desde março deste ano, foram testados vários fungicidas. Um deles - estrobirulina - não teve efeito na chamada fase 'biotrófica', quando o fungo infecta as plantas. Mas depois da descoberta da eficácia de uma molécula denominada 'Sham' capaz de inibir a atuação do fungo nas suas duas fases, a Unicamp testa agora moléculas com características estáveis enviadas pela Ihara para serem aplicadas no lugar do Sham. Esta molécula inibiu em 100% a atuação do fungo, além de outros fungos tropicais, mas por ser uma droga usada em laboratório não é estável para ir a campo. A patente dessa experiência já foi requerida. As pesquisas sobre o fungo começaram em 2000, quando foi formada uma rede de pesquisadores coordenada pelo professor do Laboratório de Genômica e Expressão da Unicamp, Gonçalo Guimarães Pereira. Em 2005 foi descoberto o mecanismo fundamental da doença e, em 2007, feito o primeiro de uma série de sequenciamentos do DNA do fungo. Esse organismo não só ataca os frutos, mas também impede que a planta os produza. Ele é complexo e nenhum fungicida existente é efetivo no seu controle. Quando entra na planta, não aparecem sintomas. A planta reconhece que foi infectada e tenta se defender mandando inibidores para a respiração do fungo, o que provocaria a morte dele. Mas o fungo gera uma via alternativa e consegue sobreviver. Assim, a planta fica intoxicada, envia nutrientes para o fungo em uma tentativa de trazê-los de volta durante seu combate ao agente. Se colocado no mercado, este seria o primeiro fungicida desenvolvido no Brasil, conforme Rodrigo Naime Salvador, gerente de engenharia de produto da Ihara. Ele diz que normalmente os produtos são criados em outros países e adaptados às regiões tropicais, embora este precise ainda ser 'misturado' a uma outra substância já existente no mercado. O risco de não se chegar a um produto eficiente ou esbarrar em problemas como o alto custo do produto ainda existe, mas é pequeno, ressalta Salvador. Os testes de campo ainda não foram realizados, mas até o fim do ano deve se estabelecer a pesquisa da interação das moléculas. Será necessária também uma bateria de testes nas áreas ambiental e toxicológica para chegar ao produto final. Depois de aprovado pelos órgãos competentes, o produto vai ao mercado. Mas todo esse processo pode levar de seis a oito anos, alerta Salvador. Somente o registro pode demandar quatro anos, embora possa se pedir regime de urgência, o que reduziria esta fase de quatro para um ano e meio. Contexto Mais de vinte anos depois de entrar na Bahia, o fungo da vassoura-de-bruxa ainda é considerado uma das principais causas de baixa produtividade da cultura. Todos os cacaueiros do Estado estão infectados pelo mal, embora não pareçam doentes. 'A planta gasta energia demasiada para se manter saudável e tenta atacar o fungo, o que provoca a perda de produção', diz o professor da Unicamp, Gonçalo Pereira. Com o tempo, as plantas adquiriram certa resistência e hoje registram perdas na produtividade entre 20 e 30 arrobas por hectare, ao contrário da queda brusca inicial que derrubou a produtividade para zero, ante as 100 arrobas por hectare, segundo Pereira. O fungo só ataca ramos em crescimento, que depois secam e ficam parecidos com os galhos de uma vassoura. Apesar de ser endêmico na Amazônia, sua entrada na Bahia foi um dos principais motivos para a decadência da cultura no país.

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