quarta-feira, 7 de agosto de 2013

BHC: Um problema a menos no Paraná

Reportagem publicada em 7 de Agosto em A Gazeta do Povo destaca o recolhimento de agrotóxico proibido há mais de 30 anos. Mais de 1 milhão de quilos de um agrotóxico proibido, perigoso para a saúde humana e para o meio ambiente e que estava armazenado em mais de 2 mil propriedades rurais do Paraná, foram coletados e destruídos. A quantidade recolhida é bem maior que a estimativa, que apontava a existência de 665 mil quilos do produto conhecido como BHC estocados, muitas vezes inadequadamente, desde 1985, quando foi banido. Pioneiro - O programa de recolhimento adotado pelo Paraná é considerado pioneiro – já está sendo copiado por São Paulo e deve ser “exportado” para outros países. A iniciativa começou a ser executada em 2009, a partir da criação de uma lei e do cadastramento de agricultores que declararam ter produtos proibidos. A etapa do recolhimento demorou e só foi concluída em maio de 2013. No meio do processo de coleta, os organizadores souberam de casos de proprietários rurais que não se cadastraram e decidiram dar uma nova chance. O prazo para a autodeclaração começou em fevereiro de 2013 e termina no dia 15 de agosto. Nova fase - Nessa nova fase, 65 agricultores afirmaram ter mais 275 mil quilos de agrotóxicos – que devem começar a ser recolhidos até o final do ano. Depois da data-limite para o cadastramento, quem mantiver agrotóxicos proibidos na propriedade está sujeito à autuação por fiscais. Além de multa, o agricultor pode responder a processo por crime ambiental, se for considerado que houve má fé. Quem não aproveitar a oportunidade da estrutura pública oferecida para facilitar a coleta, ainda terá de arcar com os gastos para dar destinação correta ao produto. Equipamento de segurança - Quem se cadastra, recebe equipamentos de segurança para fazer o acondicionamento do agrotóxico e licença ambiental para transportá-lo até um ponto de coleta. Quando a quantidade é superior a dois mil quilos, uma empresa especializada vai buscar o produto na propriedade, conta o engenheiro agrônomo Udo Bublitz, responsável pelo programa no Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). O agrotóxico é levado para usinas autorizadas, em São Paulo, e incinerado. As cinzas inertes são depositadas num aterro químico. O investimento até agora foi de R$ 9 milhões. Cancerígeno - Rui Müller, coordenador estadual do programa de recolhimento, destaca que o BHC é cancerígeno e altamente persistente na natureza. Ele conta que várias análises apontaram a presença do produto em leito de rios. Do total de 1,2 milhão de quilos recolhidos, 85% eram de BHC e o restante de outros agrotóxicos proibidos. Auxílio - O Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev) auxilia no programa e paga a metade das despesas. Para João Cesar Rando, diretor-presidente da Inpev, a união de forças entre poder público e iniciativa privada é um diferencial do programa. Ele destaca, ainda, que atualmente existem produtos alternativos menos danosos e mais eficientes para uso agrícola. Três décadas entre proibição e recolhimento - Quase três décadas se passaram entre a proibição e o recolhimento do BHC. A demora causou danos. Muitas fazendas foram vendidas com veneno enterrado. Funcionários responsáveis por armazenar o produto – e que sabiam onde estava guardado – não mais trabalham nas propriedades. Apenas agricultores conscientes e precavidos puderam se adequar à lei sem causar riscos ao ambiente e à população. Alívio - Entre os agricultores que conseguiram se livrar do BHC está Sérgio Otaguiri, diretor da Cooperativa Integrada em Londrina. “Isso tudo é do tempo que o meu pai tocava a fazenda”, comenta sobre os aproximadamente 120 quilos de agrotóxico que tinha guardado em uma tulha. “Para nós foi um alívio porque não tinha o que fazer”, diz. Ele soube de histórias de produtores que, com medo de serem autuados pela posse do produto, enterraram o agrotóxico. Problema - Para o agricultor londrinense Ernesto Bremer, o problema era o agrotóxico Paration, também proibido. Ele vendeu o sítio e “herdou” o produto. Foi informado pela Emater que deveria levar os três tambores lacrados a um armazém. “Foi um alívio”, resume. Até uma senhora, que tinha uns poucos quilos para combater pulgas e cupins num apartamento em Curitiba, ligou para a Emater para pedir a remoção do produto. (Gazeta do Povo)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Ervas daninhas desafiam poder da biotecnologia

O capim-arroz é particularmente devastador em arrozais, onde os prejuízos às vezes chegam a 100% Essa erva-daninha desenvolveu resistência a muitos herbicidas usados por agricultores para controlar ervas daninhas, e cada planta pode produzir até 1 milhão de sementes, que se alojam no solo esperando a chance de crescer. No fim das contas, o capim-arroz e as muitas outras ervas daninhas do mundo resultam em uma redução de 10% na produtividade das lavouras. Só nos EUA, causam um prejuízo estimado em US$ 33 bilhões por ano. Os herbicidas podem reduzir o dano, mas a resistência se desenvolve em poucos anos a partir da introdução de um novo defensivo químico. Agora, alguns cientistas argumentam que podemos encontrar formas mais eficazes de combater as ervas daninhas estudando sua evolução. “São plantas incrivelmente bem-sucedidas. Elas evoluíram para tirar proveito de nós”, disse Ana Caicedo, da Universidade de Massachusetts. O capim-arroz mudou drasticamente em relação a seus ancestrais, desenvolvendo tolerância ao solo encharcado dos arrozais. Ele também evoluiu para ficar parecido com o arroz. “O pessoal da biotecnologia não tem nem ideia sobre como fazer uma planta se parecer com outra planta”, disse R. Ford Denison, biólogo evolucionista da Universidade de Minnesota. “No entanto, mil anos de seleção em um pedacinho da Terra foram suficientes para dar ao capim-arroz a capacidade de mimetismo com a lavoura -e a tolerância à inundação.” Certos traços ajudam as espécies selvagens a se tornarem ervas daninhas -elas crescem rapidamente, por exemplo, e produzem muitas sementes. Outras ervas evoluem a partir da união de plantas selvagens com cultivos agrícolas. Na década de 1970, beterrabas selvagens da Europa lançaram pólen que fertilizou beterrabas açucareiras cultivadas em fazendas. Também cultivos agrícolas podem virar ervas daninhas. “Domesticamos uma planta a partir do estado selvagem, e ela, de alguma forma, se ‘desdomestica’ -o que eu acho bastante interessante”, disse Caicedo. Entre esses cultivos desgarrados está uma erva daninha conhecida como arroz vermelho. O arroz domesticado foi selecionado geneticamente de modo a reter suas sementes quando colhido. Já o arroz vermelho desenvolveu sementes frágeis, que caem no chão ao serem colhidas, às vezes ficando dormentes. Essas sementes dormentes podem posteriormente brotar. “É um traço fantástico para uma erva daninha”, disse Caicedo. O DNA das ervas “desdomesticadas” adquire novas mutações em diferentes genes. “Você tem um novo conjunto de truques genéticos”, disse Norman Ellstrand, da Universidade da Califórnia, em Riverside. O último século trouxe uma série de herbicidas químicos que logo se tornaram ineficazes. Hoje, 217 espécies de ervas são resistentes a pelo menos um herbicida, segundo a Pesquisa Internacional de Ervas Resistentes a Herbicidas. Na década de 1970, havia grande esperança em torno de um novo herbicida chamado glifosato, vendido pela Monsanto como Roundup. Os primeiros estudos revelaram que as ervas daninhas não desenvolviam resistência a ele, o que despertou a expectativa de que finalmente os agricultores haviam escapado da evolução. Na década de 1980, a Monsanto ampliou a popularidade do glifosato lançando cultivos agrícolas geneticamente modificados que portavam um gene que lhes conferia resistência ao herbicida. Em vez de usar diversos herbicidas diferentes, muitos agricultores poderiam agora usar apenas um. No entanto, por meio da evolução, as ervas daninhas acabaram se tornando resistentes ao glifosato. Meses atrás, a consultoria agrícola Stratus informou que metade das fazendas americanas tinha em 2012 ervas daninhas resistentes ao glifosato. Em 2011, eram 34%. Alguns pesquisadores argumentam que as ervas daninhas podem ser combatidas com a combinação de dois genes de resistência em uma só planta cultivada, de modo que os agricultores poderiam aplicar dois herbicidas ao mesmo tempo. A chance de que uma erva tenha resistência aos dois produtos químicos seria minúscula. Mas na revista “Trends in Genetics”, uma equipe franco-americana de cientistas apresentou um contra-argumento: pulverizar um produto químico pode motivar a evolução de um sistema de reação a todo tipo de estresse, capaz de defender a planta contra mais de um herbicida. David Mortensen, biólogo da Universidade Estadual da Pensilvânia e especialista em ervas daninhas, previu que essas plantas criariam uma nova geração de ervas resistentes. Ele e seus colegas estão investigando o controle das ervas daninhas por meio do plantio de cultivos como o centeio de inverno, capaz de matar as ervas bloqueando a luz solar e liberando toxinas. “Você espalha a pressão da seleção em vários pontos e tenta evitar a criação de resistências.” Referência: www.universoagro.com.br